quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Cigarro

Muitos anos atrás

Em casa, só tinha um cigarro amassado. Bati três vezes com o filtro na palma da mão e uma puxadinha de leve e pronto, já pode ser aceso. Saí de casa na direção dos rocks de sexta-feira e encontro o primeiro cabra. Negro, velho e bêbado. Diz: “no fundo de um lago retirado do mundo onde o seu discurso não pode ser notado, eu estarei”. Bah! Poético, não entendi, mesmo assim gostei mas tens fogo? “não” responde. Segui adiante na mesma direção, o bairro está deserto e assustador, é lua cheia, vi uma coruja, vi um gato preto, vi um despacho na esquina e ouvi uma voz bem atrás de mim, que cagaço! dizia: “aqui o relógio se opõe, aqui podes chorar, mas teu choro dói e rasga tua carne.” meu Deus! os andarilhos estão inspirados, mas tens fogo? “não” responde. Apertei o passo. Chega disso! Quero fumar! Mais adiante, outro filósofo da cachaça: “aqui o desapontamento é aflitivo” e não, não tem fogo. Outro: “aqui o tempo já não tem mais valor” também não tem fogo. Mais um: “aqui as leis dos homens são insignificantes” estava com medo de perguntar, mas perguntei. não tem fogo. Já bem perto do destino onde já podia ouvir a música, outro cara: “aqui nem a paz, nem o fogo serão encontrados” puta que pariu! serão alucinações? Por via das dúvidas, parei de fumar pela primeira vez.

Três anos mais tarde

Voltei a fumar e fui morar no litoral. Era inverno, chovia, a cidade estava deserta, por volta das onze horas fumei meu último cigarro, deitei na cama, mas não consegui dormir, era muito cedo, não devia ter fumado o último tão cedo.
Logo começou a bater o desespero, meia-noite, uma hora e nada, saí de casa para comprar cigarro. Andei cerca de 15km até os limites da cidade vizinha e não encontrei nem um boteco aberto, voltei por outro caminho pra tentar a sorte, nem uma viva alma na rua, voltei pra casa, tomei um banho quente e vou tentar dormir. Quatro horas, cinco horas e nada. Não consegui dormir. Levantei de novo, vou caminhar na direção da vila dos pescadores, na pior das hipóteses consigo com eles, nem que seja um palheiro. Antes de chegar na vila, avistei uma luz dentro de uma casa, me aproximei, ouvi vozes e pude notar que estavam jogando cartas, não resisti, bati na porta, provoquei silêncio por um tempo, ninguém disse nada então me pronunciei: - Não tenham medo amigos, sou do bem, só estou desesperado para fumar, maldito vício, por favor pode me ceder um cigarro? Não precisa abrir, basta colocá-lo pelo vão embaixo da porta, cochichou um pouco, logo, um cara abriu a porta, com um revólver na mão. – tudo bem, eu disse, só um cigarrinho e vou embora. O cara demonstrou tranqüilidade e colocou a mão no bolso e puxou seu maço tirou dali cerca de dez cigarros e me deu, agradeci muito e sai logo dali, que loucura! Fui para casa, coloquei os cigarros na cabeceira, tomei outro banho quente, deitei e pensei: agora vou saborear o cigarro perfeito, o melhor do mundo. Com um isqueiro na mão e o cigarro na outra foi como eu acordei, na mesma posição, muitas horas depois, quem disse que eu fumei aquele famigerado cigarro? o que me fez caminhar 30km em três municípios diferentes na chuva de madrugada e arriscar até a vida naquela casa foi o fato de que eu não tinha cigarros, parei de fumar pela segunda vez.

Muitos anos depois

Voltei a fumar e a cometer outros excessos que são da mesma família. Ninguém pode dizer que não são prazerosos, mas quando passa de prazer pra vício passa também a ser preocupante, estava mais viciado do que nunca no maldito cigarro, realmente ficar sem ele me deixava nervoso.
Comecei a fumar há vinte e cinco anos, um maço de cigarros por dia, imagina a quantidade de produtos químicos que meu organismo já absorveu, veja:
cada cigarro tem aproximadamente 45mg de cada substância, são vinte e dois componentes químicos do cigarro inseridos em combustão vinte vezes (um maço) diariamente no meu organismo. Vinte vezes 45mg de nicotina, por exemplo: 900mg/dia vezes 365 dias por ano= 328,5g/ano vezes 25 anos = 8212,5g. Ou seja, eu já inseri mais de oito quilos de nicotina no meu organismo, o mesmo serve para todos os itens químicos encontrados no cigarro, o que equivale a cerca de 180 quilos de produtos químicos, duas vezes o meu peso. Pois com tudo isso, não é que um cara que nunca fumou, e abomina todo tipo de uso de drogas ilícitas, meu irmão Anselmo é que foi parar no hospital com uma doença raríssima no sistema nervoso central. Não quero justificar agora, afirmando que o cigarro não tem relação com doenças, pelo contrário. Como estes foram, sem sombra de dúvidas, os piores dias da minha vida, como foi tão sofrido, agora mesmo é que eu precisava fazer alguma coisa, porque ele está bem melhor agora. E fiz. Desta vez em forma de promessa (a nossa senhora da saúde) e de forma definitiva, decidi parar de fumar pela terceira e última vez.


Componentes do cigarro

Acetaldeído
 - Produto metabólico primário do etanol na sua rota de conversão a ácido acético. É um dos agentes responsáveis pela ressaca.
Acetona
 - Solvente inflamável.
Ácido cianídrico
 - Cianeto hidrogenado extremamente venenoso devido à habilidade do íon em se combinar com o ferro da hemoglobina, bloqueando a recepção do oxigênio pelo sangue. Mata por sufocamento.
Acroleína
 - Composto que possui odor e sabor amargo obtido pela desidratação da glicerina por bactérias.
Alcatrão
 - Resíduo tóxico cancerígeno que colabora com o vício do mesmo e obstrui as vias respiratórias.
Amoníaco
 - Composto químico usado em produtos de limpeza.
Arsênico
 - Composto extremamente tóxico, veneno puro.
Benzopireno
 - Substância cancerígena que facilita a combustão existente no papel que envolve o fumo.
Butano
 - Gás incolor, inodoro e altamente inflamável.
DDT
 - Agrotóxico.
Dietilnitrosamina
 - Composto que causa lesão hepática grave.
Fenol
 - Ácido carbólico corrosivo e irritante das membranas mucosas. Potencialmente fatal se ingerido, inalado ou absorvido pela pele. Causa queimaduras severas e afeta o sistema nervoso central, fígado e rins.
Formol
 - Formaldeído, componente de fluído conservante, que causa irritação dos olhos, nariz, garganta e pele, mutagênico e carcinogênico suspeito.
Mercúrio
 - Causa dor de estômago, diarréia, tremores, depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, dentes moles com inflamação e sangramento na gengiva, insônia, falhas de memória e fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade, dificuldade de prestar atenção e até demência.
Metais pesados
 - Chumbo e cádmio. Causam a perda de capacidade ventilatória dos pulmões, além de dispnéia, fibrose pulmonar, hipertensão, câncer nos pulmões, próstata, rins e estômago
Metanol
 - Álcool metílico usado como combustível de foguetes e automóveis.
Monóxido de carbono
 - Gás inflamável, inodoro e muito perigoso devido à sua grande toxicidade por formar com a hemoglobina do sangue um composto mais estável do que ela e o oxigênio, podendo levar à morte por asfixia.
Naftalina
 - Substância cristalina branca, volátil, com odor característico antitraça.
Nicotina
 - Alcalóide usado como herbicida e inseticida com cheiro desagradável e venenoso, que constitui o princípio ativo do tabaco. Provoca cancro nos pulmões devido à metilização.
Níquel
 - Armazenam-se no fígado e rins, coração, pulmões, ossos e dentes - resultando em gangrena dos pés, causando danos ao miocárdio etc..
Pireno
 - Hidrocarboneto aromático cancerígeno.
Polônio
 - Elemento altamente radioativo e tóxico e o seu manuseio requer a utilização de equipamento especial usado com procedimentos restritivos.

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